Decidir morar em outro país é moleza. No começo é tudo novidade, festa, diversão. Com o passar da euforia, você percebe que as coisas começam a entrar numa rotina, bem parecida com aquela que você deixou para trás, com um agravante: o idioma.
Eu nunca gostei de inglês, é fato. O que me fez vir morar em Londres. Eu também nunca gostei de escrever, o que me fez estudar jornalismo. É… Pessoa louca! Enfim…
Eu estudo esse idioma desde que eu me conheço por gente. Mas quando cheguei aqui eu não entendia, não entendiaaaaaa o que aquele atendente estava me perguntando: “Meal or Sandwich?” Eu só conseguia dizer please, yes, no… Passado esse estágio, do que você já sabe o que comer no McDonalds, vem a pergunta: “eat here or take away?”
Depois que você já consegue comprar seu lanche, colocar crédito no celular e Oyster, pagar a sua compra no Tesco e outras coisinhas do cotidiano, você arruma um emprego. Com esse inglês Tupiniquim vai ser algo como cleaner, waitress or leafleter. Tudo muito bonito para dizer faxineira, garçonete ou panfleteiro. E eu fui os dois últimos.
Garçonete aqui ganha bem. Então, quando você arruma um emprego, além de eufórica, você percebe que o seu inglês vai incorporando um novo repertório: basil, black pepper, rocket, olives e por ai vai… A gente aqui chama isso de inglês funcional.
Dai fui trabalhar na área de Local Marketing de uma empresa. Esse foi apenas um nome bonito que eles arrumaram para panfletar. O problema é que você não precisa abrir a boca para entregar panfletos. Então, meu inglês não evoluiu muito nesse tempo. O bom é que eu estava “vendendo” empréstimos com mais de 100% de juros, mas não compreendia muito bem o feedback do cliente. E me lembro que era um tom de voz hostil. Principalmente quando viam a taxa de juros. Falavam algumas coisas que eu não entendia e eu apenas dizia com um sorriso – “Ok, thank you.”
O que os ouvidos não entendem o coração não sente 😀
Agora estou trabalhando numa das lojas dessa empresa e estou incorporando novas palavras: instalment, arreas, payslips, entre outras.
Hoje, por exemplo, o rapaz ficou meia hora para me explicar o que era bounced: que nessa área significa que o seu cheque não foi compensado, voltou e você se f** Eu entedi o processo, na verdade fiz aquela cara de coco verde porque estava tentando decorar a bendita da palavra. Infelizmente, tudo leva um pouco mais de tempo para memorizar.
Como sou novata, faço aquilo que ninguém quer fazer… Normal, é a lei da vida. O problema é que o que ninguém quer fazer é ligar para referências para confirmar nome, cep e essas coisas. Dai dá no que dá:
Eu – Hello, this is priscila. I am calling from blebleble to confirm if you know blablabla
Ele – Who?
Eu – If you know blablabla.
Ele – From where?
Eu – From blebleble.
Ele- Yes, I do.
Eu. Good, can you confirm your postcode?
Ele- Yes. Ésse iu five, joaihfnhcfoisnifocahiuth
Eu (Silêncio) – Please, could you repeat?
Ele – ésse iu five, iuhfuashorivheneuivhdohcnoiu
Eu – Sorry, I didnt understand…
Ele – ÉSSE IUUU FIVEEEE, OIHFNEOICHTVRUEITVNRONRCSUCONHSDNUSI THVGNE!!!!!!!
Eu (Silêncio. Pânico. Dor de barriga. Vontade de chorar.) – Ok, perfect. Thank you, have a nice day.
Resultado: não entendi nada, bolhufas. Não confirmei nada e ainda tive que pedir peloamordedeus para alguém ligar de novo porque eu não queria que ele reconhecesse a minha voz. Muita humilhação. 😛
Enfim. É isso. Assim que eu me sinto todos os dias no trabalho. fouehcouwnhguhsnguhceou!!!!! #prontofalei 😀